As magníficas catedrais góticas da Europa, em especial da França, onde o estilo surgiu na Idade Média, devem ter inspirado o arquiteto Acioly Ferreira da Silva quando, em 1920, elaborou a planta da Igreja Senhor dos Passos. Uma obra absolutamente simples, se comparada às monumentais catedrais europeias, mas um testemunho de fé do feirense a Senhor dos Passos e um preito edificado com perseverança.
Atualmente em obras de reforma, a Igreja Senhor dos Passos, na avenida de igual nome, no centro da cidade – uma das mais belas da região – é marcada pelo estilo gótico, ou new gótico, inspirada de forma simples nos monumentais templos católicos da Europa, em especial da França, onde essa linha arquitetônica surgiu na Idade Média, tendo como ponto inicial a resplandecente Notre-Dame, iniciada em 1163. O templo feirense dedicado a Senhor dos Passos tem uma história interessante que remonta ao tempo em que a hoje metropolitana e cosmopolita Cidade Princesa vivia os seus primórdios.
A devoção de muitos feirenses fez com que surgisse a inicial capela, construída pelo comendador Felipe Pedreira de Cerqueira – membro de tradicional família local –, cujas obras teriam sido concluídas por volta de 1850/1852, quando foi inaugurada. Feira de Santana havia se emancipado de Cachoeira em 1833 e devia ter, nessa época, uma população estimada em 2.000 habitantes, a maior parte na zona rural. A construção da capela recebeu autorização da Igreja através do arcebispo Dom Romualdo Seixas e foi edificada onde hoje está o Paço Municipal Maria Quitéria.
Seguindo dados históricos, esse centenário templo de devoção a Senhor dos Passos, se for levado em conta o primitivo, estaria com 125 anos; todavia, houve a transmutação do ponto original, que cedeu lugar à obra da Prefeitura Municipal iniciada no governo do Intendente (nomeado e depois eleito) Bernardino da Silva Bahia (1920/1923). A edificação da Prefeitura foi concluída pelo prefeito Arnold Ferreira da Silva (1924/1927). Era governador do Estado Francisco Marques de Góes Calmon (1924/1928).
A planta arquitetônica elaborada pelo arquiteto Acioly Ferreira da Silva foi aprovada em 6 de julho de 1921, por Dom Jerônimo Tomé da Silva, e a construção do atual templo teve início em 1922, com a festiva colocação da pedra fundamental em terreno do município, doado pela Prefeitura a uma comissão de seis membros, liderada pelo médico e professor Gastão Clóves dos Santos Guimarães (1891/1954), natural da cidade de Belmonte e radicado em Feira de Santana. Em 1928, o prédio ganhou cobertura e foi concluído em 1980.
Em 15 de julho de 1929, com as obras em andamento, foi celebrada a primeira missa pelo sacerdote feirense Monsenhor Tertuliano Carneiro da Silva, vigário da Paróquia de Santana entre 1908 e 1927. A segunda missa foi celebrada em 2 de abril de 1932 e, mesmo sem a conclusão das obras, a igreja foi aberta ao público em 1936, quando era vigário da Matriz de Santana Monsenhor Amílcar Marques. Entre 1951 e 1964, o templo ficou sem promover ofícios religiosos, já que o padre Aderbal Saback Miranda, então vigário da Matriz, recomeçou as obras da Igreja Senhor dos Passos.
Foram desenvolvidas campanhas e vários trabalhos visando à arrecadação de recursos para as obras. Em 1974, uma campanha natalina foi empreendida para a realização de importantes obras internas por uma dedicada comissão, que, em 1977, voltou a desdobrar esforços para a implantação do piso de mármore, a construção da sacristia e da casa paroquial. Detalhe interessante é que o templo de Senhor dos Passos não conta com um sino na torre, isso porque “na época não havia dinheiro para aquisição de um carrilhão com todas as notas musicais”. Os vitrais foram reconstituídos por Pascoal, cidadão de Alagoinhas, especializado em vitrais em Lyon, França. O primeiro pároco foi o padre Aderbal Saback de Miranda. Ele exerceu o paroquiato a partir de 6 de junho de 1964 a 29 de setembro de 1975, tornando-se o único a deter o título canônico de inamovível (que não pode ser removido).
Ainda em relação à arquitetura gótica inspiradora do projeto elaborado pelo arquiteto Acioly Ferreira da Silva em 1921, ela teve origem em Paris, na França, com a construção da Catedral de Notre-Dame em 1163. Na Europa são 180 catedrais góticas, das quais 80 estão na França. São verdadeiros milagres da engenharia, em especial as abóbadas cruzadas, idealizadas em época tão remota, sem instrumental para cálculos. Demoraram dezenas de anos sendo construídas com a efetiva participação de centenas de pessoas. A Catedral de Chartres demorou quase 40 anos para ser concluída, com a média diária de 250 pessoas trabalhando de graça.
Por Zadir Marques Porto
