
Ao contrário do “rei do futebol”, ele se diz um péssimo jogador, mas seu talento na área onde atua – a farmácia – é comprovado. Começou aos 12 anos como repositor na Farmácia Biondi, com a confiança do dono do estabelecimento, José Biondi, e nunca mais parou. São quase seis décadas dedicadas à profissão e, pelo que se sabe, é o decano em Feira de Santana.
Falando-se em José Martins Barbosa da Silva, pouca gente sabe quem é, até mesmo parentes e pessoas próximas dele, mas se houver referência a “Pelé da farmácia”, tudo muda. Não é exagero dizer que “a Feira toda conhece”. Talvez não seja tanto assim, mas fica perto disso! Natural do vizinho município de Amélia Rodrigues, o garoto José veio para Feira de Santana aos dez anos com duas metas: estudar e trabalhar. Vender pipoca e revistas foi o primeiro passo, mas não era isso o que ele queria. Antes dos 12 anos já estava na Farmácia Biondi, que ficava na Avenida Senhor dos Passos, em frente ao prédio da Prefeitura Municipal.
José Biondi era representante de laboratórios e “farmacista” ou farmacêutico prático, e gostou do empenho do garoto, que absorvia com rapidez todas as suas orientações como repositor e procurava ir adiante. Em busca de mais conhecimentos formais, José Martins ingressou na Escola São João Evangelista, que ficava bem em frente à Igreja Senhor dos Passos. Não podia parar: era a Farmácia Biondi e os estudos. Aos domingos, quando havia tempo, um bom filme de faroeste, no extinto Cine Íris, de preferência se estivesse na tela Fernando Sancho ou Giuliano Gemma. Aí a vibração era maior. Nessa vida corrida, não havia tempo para o futebol nos campos da cidade com a rapaziada de sua idade.
O Colégio Estadual, depois o Instituto de Educação Gastão Guimarães, e a conclusão do segundo grau no Colégio Municipal, com natural preferência por Biologia e Física e um “olhar atravessado” para Matemática, que até hoje persiste. Na Farmácia, depois de 13 anos de verdadeiro aprendizado, deu outro passo importante quando José Biondi foi estudar Farmácia na UFBA, em Salvador, deixando-o à frente do estabelecimento. Para o aprimoramento profissional, também fez dois vestibulares para Odontologia e Medicina, mas mudou de ideia na década de 1980, ao abrir a Drogaria e Farmácia Econômica, em sociedade com André Lemos, um amigo de Salvador, na Rua Comendador Targino, quase em frente ao Velho Zu (um antigo restaurante).
Desfeita a sociedade em 1987, instalou a Farmácia Nayara, na Rua Comandante Almiro, próximo à Estação Rodoviária, firmando uma ampla e fiel clientela, com sua forma prática e atenciosa de atender ao público. Mas necessitava de maior espaço físico diante da crescente demanda, o que obteve a partir de 2021, com a transferência do estabelecimento para o atual endereço, na mesma rua, no número 453. Pelé sabe ser grato àqueles que, de alguma forma, contribuíram em sua caminhada, como José Biondi, o professor Carlito Brito, na residência do qual morou algum tempo quando veio de Amélia Rodrigues, o professor Wilson Mascarenhas, os doutores João Batista Cerqueira, Lamartine Mota, Tânia Mota e Outran Borges. É muito grato também pela amizade ao saudoso professor Jorge Cazumbá e a Miguel Barreto, que de cliente tornou-se compadre.
Quase 60 anos dentro de uma farmácia garantem a Pelé pleno conhecimento da atividade, até porque ele lê e acompanha ativamente as novidades da área farmacológica e é bem ciceroneado pelas filhas Daiana Santos Silva, formada em Farmácia, e a bióloga Nayra, além de sua esposa Judite, também dedicada à atividade farmacêutica, e da sobrinha Beatriz. Apenas o filho Thomas não seguiu seus passos, formado em técnica de motores.
Apesar de ainda não ter ingressado na casa dos 80 anos de idade, Pelé já atingiu o status de decano entre os donos de farmácias em Feira de Santana. Homem de família, ele aproveita os domingos para ir ao sítio, descansar um pouco e ouvir samba e pagode: “é o que eu gosto”. No futebol, só o Fluminense de Feira – o que parece estranho, tendo ele o nome do rei do futebol. Talvez pela aparência física e simpatia, não pelo futebol. Aí ele encerra com uma interessante revelação: “eu sou o atleta mais um” e explica: “Passei 25 anos lá em Mimiro (uma associação em Mimiro Pinto) e era tão bom que só me botavam num time já completo com 11. Assim eu era mais um, o décimo segundo jogador, porque era fraco demais. Não acrescentava nada!”. É o que ele diz rindo, talvez para “esconder o jogo”, mas na farmácia é um craque mesmo!
Por Zadir Marques Porto