O Sabejé, iguaria sagrada que pertence ao orixá Omolu, considerado o “dono da cura, da vida e da saúde”, na religião de matriz africana, foi abordado na Tribuna Livre da Câmara de Feira de Santana, na sessão desta quarta-feira (3). O tema foi apresentado por Marcelo Santos Silva, supervisor da Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro (FENACAB). Pertencente ao culto afro-brasileiro da religiosidade de matriz africana, a prática se constitui na distribuição de pipocas em ruas, avenidas e vias públicas.
“Não são pipocas ofertadas a nenhuma entidade demoníaca, até porque o candomblé não cultua demônios. Esta entidade maligna é abordada no âmbito do cristianismo, e não faz parte da matriz africana”, disse Marcelo. Da mesma forma, segundo o supervisor, sabejé não é distribuição de pipoca para o orixá Exu, não é comida envenenada e nem alimento destinado a quem usou ou usa drogas. Se associada à distribuição de doce, não tem a intenção de interferir e intervir em qualquer tipo de fé ou orientação religiosa de outras pessoas. “Não faz parte de nossa concepção e entendimento, qualquer coisa neste sentido”, assegurou.
Registrado no Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (IPHAC) da Bahia e no IPHAN, como um ato simbólico religioso, que possui liturgia própria, o ritual é voltado ao combate à mortandade e às doenças. Em nome da Federação Nacional, o representante condenou a intolerância à caminhada do povo de santo [adeptos do candomblé]. “A pipoca pertence ao orixá que pode conceder a cura para aqueles que, por deficiência intelectual e social, e por perversidade nos atacam, achando-se acima das leis. Mas, continuamos na busca efetiva da consolidação de uma sociedade mais justa igualitária”, afirmou, ressaltamos que o Brasil é um estado laico, onde impera a liberdade de culto. Em comparação com o acarajé, outra comida originada no culto afro e muito apreciada na Bahia e no mundo, ele acrescentou que a pipoca oferecida no ritual não tem faixa etária para recebimento.
“Nossa iguaria é tão boa, que tentam desconstruir o acarajé, por exemplo, rebatizando-o e denominando-o de “bolinho de Jesus”. Mas, queiram ou não, é um alimento sagrado, pertencente ao culto afro brasileiro. Da mesma forma, o sabejé pode ser oferecido tanto a crianças quanto a adultos, pois não se trata de comida envenenada e nem iguaria maligna”, garantiu. Por fim, em seu pronunciamento, o supervisor nacional da FENACAB agradeceu o espaço concedido pelo Legislativo feirense e reconheceu o compromisso de parlamentares da Casa que atuam a favor das causas dos adeptos do candomblé. “Que nos respeitem como pessoas religiosas, como religião reconhecida na Constituição Federal e possui garantia de liberdade de culto. Nossos símbolos merecem respeito, tanto quanto os santos da Igreja Católica ou apóstolos da escritura sagrada”, frisou.
De acordo com Marcelo Silva, é preciso manter o respeito e a cordialidade, a fim de evitar embates desnecessários. Em seu entendimento, todo o caminho que leva a Deus, independente da religião, prisma e busca um mundo melhor. “O mundo já vive muito conflito. Não devemos estabelecer isto no Brasil. E muito menos em Feira de Santana. Prezamos pela convivência harmoniosa, mas tem que haver o respeito”, observou, reafirmando que o povo de santo também não aceita agressão a outros segmentos, sejam católico ou evangélico. “No dia que ocorrer alguma agressão, seremos solidários a quem for agredido, pois não brigamos por exclusividade. Mas, sim, por igualdade, que consiste em respeito mútuo”, disse.
A FEBAC foi fundada em 24 de novembro de 1946, tendo 79 anos de atuação. Consta na Constituição do Estado da Bahia com prerrogativas e reconhecimento dos espaços pertencentes ao culto afro brasileiro.
Fonte: Câmara de Feira de Santana