
Um homem sério, extremamente dedicado à profissão e à família, com conquistas importantes ao longo de 65 anos de trabalho, mas suficientemente sensível para lembrar o seu dia a dia e ser grato a todos aqueles que com ele têm participado dessa caminhada. James Nassif, técnico de várias emissoras de rádio na Bahia, uma referência pela qualidade e idoneidade.
Menino, ele já estava no microfone do serviço de alto-falante Ponto Final, pertencente a ‘Alemão’, na Rua Quintino Bocaiuva (Rua do Fogo). Ótima leitura, desembaraçado, agradava aos ouvintes e às pessoas que levavam mensagens e pedidos musicais, mas não gostava quando alguém dizia ao dono do sistema, em elogio: ‘essa menina é muito boa, vai longe!’. É que, aos 11 anos de idade, sua voz infantil era confundida com a voz de uma locutora, lembra e sorri. Assim começou a trajetória do competente técnico de rádio James Nassif. Com descendência sírio-libanesa — da avó e do avô — e filho do casal José Nassif e dona Arlinda Pereira, James nasceu em 21 de novembro de 1946, na Rua do Fogo, da qual tem as melhores lembranças.
Em 1962, passou a trabalhar na Voz da Princesa, serviço de alto-falante de Antônio Alves Vitória, o popular Ligosa (apelido devido à sua aparência com o ator de Hollywood Leegosa), trabalhando também no congênere Topa-Tudo. Logo após, foi aprovado em teste na Rádio Cultura, com o diretor José Bertolino, mas teria que esperar surgir uma vaga. Dias depois, visitava a emissora às 14 horas e, como Aristides Oliveira, locutor do horário, não compareceu, o operador de som Raimundo Simões sugeriu à coordenadora Ana Benedita que colocasse James. Orlando Lima, que fazia o horário seguinte, também faltou. Assim, James trabalhou das 14 às 18 horas. ‘Fiz até o horário da Ave-Maria, lendo de forma pausada e enfática uma mensagem da Hora do Ângelus’.
Quando ia saindo, foi avisado de que o diretor Antônio Pereira queria vê-lo. ‘Eu não o conhecia e fui ao escritório dele preocupado, acreditando que iria levar uma bronca, mas fui elogiado e contratado!’. Passou a apresentar o Bom Dia Trabalhador, das 7 às 8 horas, substituindo Gilberto Costa, e Caixa de Pedidos, um programa de caráter nacional com patrocínio exclusivo da Lifebuoy. Das 22 às 24 horas, com enorme audiência, apresentava Música e Poesia. Em 1967, trocou de prefixo, indo para o departamento de radiojornalismo da Sociedade de Feira, coordenado por Edival Souza.
A missão era redigir notícias, incluindo o Grande Jornal Falado, que tinha dois horários: das 13 às 13h30min e das 21 às 21h30min. Muitas vezes também apresentava em dupla com Aristides Oliveira, Dourival Oliveira, Agnaldo Santos e outros colegas. Todavia, apaixonado pela eletrônica, dedicava-se aos estudos por correspondência e, em 1966, foi diplomado. Lembra como um importante passo o fato de que, em 1969, montou um receptor de tevê Centenário com um kit recebido do curso — um aparelho preto e branco (ainda não existia colorido), mas de excelente qualidade —, o que lhe valeu muitos elogios.
Em 1975, deixou a Rádio Sociedade para se dedicar à Eletrônica Nassif, que já funcionava na Rua General Osório. Depois, foi convidado pelo diretor da RS, frei Agatângelo de Crato (frei Ambrósio Lobo), para assumir a direção técnica da emissora, devido à saída de Júlio Eleutério. Com o frei Breda, técnico em eletrônica vindo do Rio Grande do Sul, no mês de abril fez um treinamento prático-teórico sobre manutenção dos três transmissores da emissora de marca PEB (Produtos Eletrônicos Brasileiros), de um, dois e cinco kHz. Em 1977, assumiu a direção técnica da RS e, em companhia de frei João Cruz, que o auxiliava, fez aperfeiçoamento em Petrolina, na Rádio Rural, que era dos Capuchinhos, com um técnico alemão. Em 1981, convidado por Modezil Cerqueira, assumiu a direção técnica da Rádio Subaé. Em São Paulo, fez atualização no IBAPE e foi responsável pela instalação da TV Subaé.
Devido aos inúmeros compromissos com quase duas dezenas de emissoras baianas, passou a atuar como autônomo. Todavia, em 1981, mediante convite de José Nilton Ramos, eficiente e saudoso diretor comercial da Rádio Sociedade, voltou aos microfones para apresentar, aos domingos, das 12 às 14 horas, o programa As Maiorais da Semana, uma parada de sucessos musicais de enorme sucesso. Da longa carreira no rádio — locutor, noticiarista, redator, técnico de som —, James tem muitas lembranças, mas nada igual ao que aconteceu em 1989.
‘Eu estava na redação da Sociedade, com dois receptores ligados, quando a BBC de Londres — transmitindo em espanhol — informou, diretamente de Cabo Canaveral, o “reengate”, acoplagem do módulo lunar na nave-mãe, o que era esperado com enorme expectativa mundial. Corri nos corredores da emissora e informei em edição extra. A Rede Globo do Rio de Janeiro noticiou dois minutos depois, e a Sociedade da Bahia, cinco minutos. Foi um recorde no país. José Nilton me parabenizou. Não esqueço esse momento’, diz, feliz. Casado, pai de 10 filhos — todos bem situados —, James Nassif é um dos mais conceituados profissionais do segmento na Bahia. Totalmente voltado para a eletrônica. Sem vícios, tem uma biblioteca especializada e nela passa os poucos momentos livres lendo e estudando eletrônica.
Por Zadir Marques Porto