A PAIXÃO PELA ARTE CINEMATOGRÁFICA EM FEIRA COMEÇOU NO EXTINTO CINE VITÓRIA

A paixão pelo cinema, que começou no final do século XIX, ganhou o mundo com rapidez e logo chegou a Feira de Santana, por volta dos derradeiros anos da década de 1930, quando o município contava com cerca de 80 mil habitantes e pouco mais de 28 mil deles residindo na cidade. Era o cinema mudo e, apesar disso, algo mágico que deixava o público encantado. O Cine Teatro Vitória foi o pioneiro a apresentá-lo e, da sua fusão com o Santana, surgiu o Cine Teatro Santana, orgulho dos feirenses que nele assistiram aos primeiros filmes sonoros.

Surgido no final do século XIX, o cinema em pouco tempo tornou-se praticamente indispensável e, em alguns momentos, quase obrigatório como entretenimento extremamente popular, com o mérito de se apresentar absolutamente democrático, tanto do ponto de vista intelectual, como social. Atribuído aos irmãos Lumière, na França, e expandido por outro francês, Méliès, que produziu os primeiros filmes, o cinema chegou a Feira de Santana, assim como a outras cidades nordestinas, como uma extraordinária novidade. Conforme historiadores, no limiar do século XIX, ou nos dias iniciais do século seguinte, com atraente fachada, em azul, na parede de cal, o ‘Cinema da Vitória’ foi a casa pioneira do gênero nesta cidade.

O prédio de dois pavimentos, pertencente à Santa Casa de Misericórdia, tendo alguma semelhança com a sede da Filarmônica 25 de Março e do Monte Pio dos Artistas Feirenses (arquitetura comum na época), localizava-se na então Rua Direita, depois nominada Rua Conselheiro Franco, próximo à então Escola Normal – hoje Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA). O Cine Vitória foi implantado em 1919, pelo comerciante Eliziário Santana, membro de uma família de renomados comerciantes, não se sabendo, no entanto, a razão do nome escolhido, talvez lembrando alguém de sua amizade, ou homenageando a Sociedade Filarmônica Vitória, surgida 46 anos antes, fundada em 1873.

No início, era apenas teatro e, como tal, ali eram apresentadas peças teatrais, musicais e até apresentações circenses, uma delas com artistas de um circo belga. O surgimento do Cine Teatro Santana (fusão do Cine Vitória com o Cine Teatro Santana) foi um avanço para a cultura local. Por ser mais popular que o teatro e uma novidade, a exibição fílmica foi ganhando notoriedade e de maneira mais robusta e definitiva com a chegada do cinema sonoro em 1937, já que até então eram projetados filmes mudos (preto e branco) e alguém, ao piano, executava músicas, criando algo semelhante a uma trilha sonora como hoje existe.

Era prefeito municipal Heráclito Dias de Carvalho (1935/1937) e o advento do filme com som significou grande avanço para a indústria cinematográfica e mais um motivo de atração para o público. O Cine Teatro Santana, com cerca de 300 assentos, funcionou até a década de 1940, mas não há dados precisos quanto à sua desativação, estimada entre 1942/1943. Também, nesse período, funcionou na mesma artéria central da cidade o Cine Elite, do qual pouco se sabe.

Mas a sétima arte ganhara lugar nos hábitos da sociedade feirense, adepta das grandes películas produzidas em Hollywood, com atores e atrizes que se tornaram verdadeiros deuses, celebridades jamais igualadas até hoje, na era da televisão e das denominadas redes sociais. Nunca mais Rodolfo Valentino, Clark Gable, Brigitte Bardot, Sophia Loren, Rodolfo Valentino, Robert Taylor, Audrey Hepburn, Rock Hudson, Ava Gardner, John Wayne e tantos outros, imortalizados através das telas dos cinemas. E como a Princesa não poderia ficar sem esse grande entretenimento, em 1944, mediante uma ampla sociedade de 10 membros, era inaugurado o Cine Teatro Íris, na Avenida Senhor dos Passos, em um prédio amplo com pavimento superior.

A elite feirense sempre esteve presente às sessões do Cine Íris, que, em 1948, com a dissolução da sociedade, foi adquirido pelo empresário do ramo, Afonso Cavalcante de Carvalho, que possuía a maior rede de casas do gênero na Bahia. Em 1962, o Íris voltou a mudar de direção, adquirido pelos irmãos Normando e Nilton Barreto, quando viveu grande fase. Também até o final da década de 1950, a cidade contou com o Cine Plaza, localizado na Rua Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos). Era uma espécie de ‘cinema menor’ em relação ao Íris, até porque exibia alguns filmes já apresentados na outra casa, mas tinha bom público, notadamente nas sessões noturnas das segundas-feiras, com filmes policiais, aventuras no mar, musicais e outros voltados para um público específico.

No final da década de 1950 para os anos 60, passou a funcionar nesse mesmo prédio, na Desembargador Filinto Bastos, a Rádio Sociedade de Feira, que apresentava programas de auditório, aproveitando as instalações apropriadas deixadas pelo cinema – como um grande palco e cadeiras em número significativo. A emissora ali permaneceu até 1965, quando iniciou o processo de transição para o Bairro dos Capuchinhos, onde está em sede própria. O Cine Santanópolis, oriundo do ginásio que tinha o mesmo nome, foi instalado na Avenida Senhor dos Passos, mudando o nome para Cine Timbira, onde hoje está a Lojas Americanas. Foi a maior casa do gênero da cidade. Implantado pelo deputado estadual Áureo de Oliveira Filho, o Santanópolis, o último grande cinema de Feira de Santana, fechou o ciclo das casas de espetáculo isoladas, que proporcionavam ao adepto da sétima arte o deslocamento prazeroso até o local, com o único objetivo de assistir a uma sessão cinematográfica, portanto antes da era das salas em shoppings. A cidade princesa também contou com o Cine Madri, na Rua Castro Alves, o Central, na Rua Geminiano Costa, depois na Rua Filinto Bastos, e o Cine Brasília, no bairro homônimo.

Por Zadir Marques Porto

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