Artista feirense doa pinturas mediúnicas para obras sociais

A exemplo do professor Divaldo Franco, maior líder espírita do Brasil, recentemente falecido, com dezenas de livros psicografados, cujos recursos obtidos com a venda, em inúmeros países, são revertidos em obras sociais, como a Mansão do Caminho, em Salvador, outro feirense, o artista plástico Ricardo Campos, faz da pintura mediúnica uma forma de contribuir com obras assistenciais.

Pintar quadros semelhantes aos de alguns dos mais renomados artistas da Terra talvez não seja algo tão difícil assim para falsificadores, pintores de talento, mas que vivem tentando burlar colecionadores, dotados de valiosas pinacotecas, com imitações tão bem feitas que só especialistas conseguem descobrir. Essa tarefa, no entanto, absolutamente ilegal e desonesta, requer muito tempo e o absoluto sigilo que a clandestinidade impõe. Mas pintar sem o uso de pincéis, com as mãos e até com os pés, em público, em pouco tempo – menos de 10 minutos –, uma tela identificada como a de um grande mestre do passado, é algo absolutamente diferente, raro, impressionante e verdadeiro.

Trata-se da ainda pouco difundida psicopictografia, ou pintura mediúnica, uma demonstração do processo de relação do espírito com o mundo material (físico), através de um médium, a exemplo da psicografia no caso da escrita ou literatura. São poucos os artistas baianos que transitam por esse tipo de arte e, dentre eles, está o feirense Ricardo Jerônimo Campos. Filho do casal Valdo Alves Campos e dona Iris Alves, Ricardo teve uma adolescência normal, estudou no Ginásio Municipal Joselito Falcão de Amorim e, destacando-se no futebol, foi convidado para atuar no Fluminense, mas não se interessou pelo profissionalismo. Em 1973, ainda estudante, realizou sua primeira exposição de pintura no Museu Regional de Feira, atual Museu de Arte Contemporânea Raimundo Oliveira, na Rua Professor Geminiano Costa.

Versátil, trabalhando com óleo sobre tela, acrílica, carvão, xilogravura, pedra-sabão e outras técnicas e materiais, também habilidoso escultor, além de compositor e poeta, Ricardo Jerônimo descobriu-se inclinado para a pintura mediúnica em 1998, durante uma reunião ou sessão de yoga, na residência da professora Elda Prado, em Feira de Santana. A partir daí, em determinados momentos, passou a sentir uma energia pulsante e uma espécie de ansiedade e inquietude, como sinais indicativos da presença de um emissor da arte pictórica. No início, de olhos fechados, trabalhava rapidamente com as mãos na tela, com tinta acrílica, produzindo trabalhos logo identificados como idênticos aos produzidos por grandes pintores desencarnados.

A partir de um ano desenvolvendo esse trabalho, começou a pintar de olhos abertos, indiferente à presença de público. “Não sinto qualquer interferência, até porque apenas executo a obra.” Embora não tenha preocupação com números, Ricardo relata que, nesses 27 anos, já produziu mais de mil telas de pintura mediúnica e expôs seus trabalhos em várias galerias e outros espaços na Bahia e Minas Gerais. Com a sentida evolução, passou a trabalhar também com a mão esquerda – embora seja apenas destro – e, durante um evento na cidade de Alagoinhas, “pintei com um pé”.

Oriundo de uma família católica, Ricardo hoje é espiritualista, o que não significa esquecer os mandamentos da Igreja Católica, que ele respeita, assim como as demais religiões e doutrinas. Um detalhe relevante é que todos os seus trabalhos vendidos nessa fase – pintura mediúnica – tiveram os valores revertidos em favor de instituições que desenvolvem obras sociais, principalmente no amparo a crianças carentes e pessoas idosas, jamais retendo qualquer quantia do que é obtido nas vendas e leilões. Seus trabalhos têm sido mostrados em vários locais, como o Instituto de Divulgação Espírita da Bahia (IDEB) em Salvador, em Ibiquara, em centros espíritas de Salvador, no Núcleo Aurora em Minas Gerais. Em Salvador, no Grande Hotel Stella Maris, a Galeria das Cores Jerônimo Campos é uma clara referência à importância da sua obra pictórica no campo da mediunidade.

Pierre-August Renoir, Manabu Mabi, M. Cassat, Pablo Picasso, Leonardo da Vinci, Camille Pissarro, Édouard Manet, Mendy, Van Gogh, Henri Matisse e os brasileiros Tarsila do Amaral, Di Cavalcante e José Pongetti são alguns mestres da pintura que o inspiram nessa obra. Durante o trabalho, ele diz sentir sua face e voz mudarem, mas logo voltam ao normal após concluir a pintura da tela. Então, sente-se enfraquecido, como se tivesse realizado um grande esforço físico. Ricardo relata o interesse que vem despertando seu trabalho e a possibilidade de se dedicar inteiramente à psicopictografia. Lembra que, no dia 3 de março, durante evento em Salvador, perante 60 pessoas, de forma inesperada, proferiu uma poesia em homenagem ao grande líder espírita brasileiro Divaldo Franco, seu conterrâneo, que faleceu no dia seguinte.

A pintura mediúnica teria surgido em meados do século XIX na Índia, tendo como precursora uma mulher, do mesmo modo no Brasil. Sobre esse fenômeno, refere-se Allan Kardec no Livro dos Espíritos, e os artistas plásticos que desenvolvem a pictografia são considerados médiuns especiais, talvez até mesmo pela demonstração de desprendimento das coisas materiais no dia a dia.

Por Zadir Marques Porto

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