
Reafirmar a força, a luta e o protagonismo das mulheres negras, em especial, daquelas que atuam direta ou indiretamente no sistema socioeducativo. Esse foi o objetivo da 4ª edição do ‘Julho das Mulheres Negras – Vozes que ecoam, tecendo futuros possíveis’.
Realizada nesta sexta-feira (18), na Biblioteca Pública da Bahia, em Salvador, a atividade é promovida pela Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac), autarquia da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos – SJDH, em alusão à campanha nacional ‘Julho das Pretas’.
A ação da Fundac é motivada pelo ‘25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha’ e, também, Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no Brasil. A data é um marco importante na luta contra o racismo e o sexismo, e busca reverenciar a resistência e as conquistas das homenageadas na região. A celebração remonta ao 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, República Dominicana, em 25 de julho de 1992. Na ocasião, foram discutidos os desafios enfrentados pelo segmento e lançada a Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenha.
Carregada de ancestralidade, alegria e beleza, a Banda Yayá Muxima, formada por mulheres negras, deu o toque musical ao evento de hoje. A apresentação foi seguida por duas palestras, oportunizando às colaboradoras da Fundac um momento de formação, conexão com suas histórias, e de fortalecimento da autoestima, evidenciando a importância do seu trabalho no sistema socioeducativo. A ação visa promover o direito à identidade e contribuir para a valorização da cultura afro-brasileira.
“O nosso Julho das Mulheres Negras é um tema trabalhado em todas as unidades, com os adolescentes e com as nossas profissionais. É um tema fundamental, porque trata de histórias silenciadas, do combate à misoginia e ao sexismo. Traz à tona a resistência, a ancestralidade e a garra dessas mulheres que construíram esse país e que são elas mesmas, as mães desses adolescentes, as avós, que constituem a missão da Fundac de trazer para os educandos e educandas, e para nossos profissionais, um novo olhar sobre ancestralidade”, destacou a diretora da Fundação, Regina Affonso.
A diretora de Bibliotecas Públicas da Bahia, Tamires Neves, reforçou a importância de a gestão pública colaborar com ações de valorização da mulher negra, corroborando para a promoção da cidadania. “Esse evento, tão representativo, busca dialogar sobre o racismo, valorização, e sobre o protagonismo da mulher negra. Enquanto mulher negra, periférica, eu entendo a relevância de criar diálogos como esses, um dia de ações culturais, com falas inspiradoras. A Secretaria de Cultura entende esses equipamentos enquanto equipamentos culturais, como um papel social e cidadão, que deve trazer para esses lugares esse diálogo, para dialogar com a nossa sociedade em prol da cidadania e nos vermos nesses espaços, entender que é possível não sermos exceção”, ressaltou Neves.
DebatesA mesa de discussão foi marcada pela presença de mulheres que falaram de suas experiências na luta pela construção da sua identidade, no combate ao racismo estrutural e à desigualdade social. A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas as SJDH, Hildete Emanuele, participou do debate sob o tema: “Habilidades da vida como projeto político: O saber das Mulheres Negras na Transformação do Mundo”. Mediada pela biomédica Thainara Pitta, o diálogo apontou a educação como instrumento de transformação social, de valorização das raízes e da herança cultural. Também participaram da mesa a gerente da Case Feminina, Rosemeire Araújo; da professa Bianca Barreto.
“É muito bom estar com essas mulheres que trabalham na Fundac e que têm um desafio diário de dizer para os adolescentes que é possível mudar e fazer uma nova trajetória. Precisamos despertar nelas o senso de pertencimento e o entendimento da sua potência. Elas podem transformar o mundo”, afirmou Hildete Emanuele.
A segunda mesa discutiu ‘Habilidades para Viver: Mulheres Negras, autonomia e o projeto de mundo que estamos construindo’. Nessa perspectiva, as palestrantes abordaram a arte-educação como forma de promover a cidadania e despertar a consciência crítica da sociedade para o tema. A palestra foi mediada pela multiartista Gabriela Cabral, e teve participação das conferencistas Madalena Maria; da musicista e ex-educanda do Projeto Axé, Carine Alves; e da sambadeira do grupo As ‘Ganhadeiras de Itapuã’, Verônica Mucúna.