
O diretor do hospital Al-Shifa, um dos maiores da Faixa de Gaza, afirmou hoje que 21 crianças morreram de subnutrição e fome nas últimas 72 horas no enclave, informando ainda que há 900 mil menores com fome na região.
Em declarações feitas à televisão pública britânica BBC, Mohammed Abu Salmiya, diretor do Al-Shifa – que já foi o hospital central da Faixa de Gaza –, acrescentou que 70 mil crianças sofrem atualmente de subnutrição, o que significa que não ingerem nutrientes suficientes para suportar as necessidades de seus corpos.
O médico alertou para o número alarmante de mortes e lembrou que os riscos aumentam no caso dos doentes diabéticos e renais.
Além destes números informados por Mohammed Abu Salmiya, o Ministério da Saúde de Gaza, sob o comando do grupo islâmico Hamas, mas cujos números são considerados confiáveis pela ONU, afirmou que outras 15 pessoas morreram de fome e subnutrição no último dia.
Isto eleva o total de mortes para 101, segundo o ministério, incluindo 80 crianças.
Na última sexta-feira (18), a organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) avisou que a subnutrição aguda em Gaza atingiu “níveis históricos”, ressaltando que grande parte dos afetados são crianças ou grávidas e lactantes.
A organização frisou que uma grande parte dos doentes atendidos em suas clínicas ainda operacionais no enclave são crianças, especificando que um em cada três tem entre 6 meses e 2 anos de idade.
“Esta é a primeira vez que assistimos a uma escala tão grave de casos de subnutrição em Gaza”, disse o coordenador médico adjunto da MSF na Faixa de Gaza, Mohamed Abu Mughaisib.
Para a MSF, a subnutrição em Gaza é o resultado de “decisões deliberadas e calculadas” das autoridades israelenses, incluindo a limitação da ingestão de alimentos “ao mínimo necessário para a sobrevivência” e a “militarização dos canais de distribuição”.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista Hamas em 7 de outubro de 2023 no Sul de Israel, que causaram cerca de 1,2 mil mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 59 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e o deslocamento forçado de centenas de milhares de pessoas.
Israel também impôs um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível e, depois de muitos apelos para que abrisse portas à ajuda humanitária, permitiu apenas que uma entidade controlada pelo país, e apoiada pelos Estados Unidos, distribua alimentos no terreno.
Essa distribuição é considerada por várias ONGs e pela ONU como insuficiente e tem sido marcada por episódios de desespero, caos e de violência por parte das forças israelenses. Mais de mil pessoas foram mortas e vários outros milhares sofreram ferimentos enquanto tentavam obter comida.