
No auge do ‘ritmo alucinante’ que ‘enlouqueceu’ o mundo com sua mágica alegria, Feira de Santana não ficou para trás. A banda Israel Stones conquistou espaços antes voltados para os cadenciados ritmos da época e pôs a juventude para dançar. Mas, na hora do passo decisivo para o Rio de Janeiro, apenas o líder e criador da banda – Israel Exalto – viajou!
Década de 1960, a juventude feirense, respirando a liberdade da geração do rock importado, por força do sucesso de Elvis Presley, The Beatles e outros ídolos além-fronteiras – e da nossa Jovem Guarda ainda engatinhando –, divertia-se nas festas dançantes de final de semana, principalmente no Feira Tênis Clube e Euterpe Feirense, além dos concorridos bailes estudantis no Instituto de Educação Gastão Guimarães, Colégio Estadual, Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand e Ginásio Municipal.
A ordem era dançar o agitado, barulhento e envolvente rock, mascando chiclete ou mesmo coladinho, sempre na expectativa de uma boa paquera. Moças e rapazes faziam planos para os sábados e domingos, quando entravam em ação Os Leopardos, grupo surgido em 1965 graças ao bancário Manoel Gonçalves Santos, que antes criara o Irapajós, inspirado no Trio Irakitan. Valtinho (Valter Pitangueira), Zete e Nelito encantavam o público com melodias românticas, mas Manoel entendeu que era preciso avançar para atender à juventude.
Em 12 de outubro de 1967, fazia sua estreia em Coração de Maria a banda Os Leopardos, com a histórica formação: Carlinhos (guitarra), Mirinho (guitarra), Grande (bateria), Zé Trindade (órgão), Manoel Gonçalves (percussão) e Zé Carlos (voz). O grupo, com naturais modificações, fez muito sucesso até 1984, quando foi desfeito. Teve importância motivadora para o surgimento – bem antes, em 1973 – da banda Israel Stones, que se tornou o grupo de rock de Feira de Santana e ostentador do título de melhor do gênero na Bahia.
Estudante ‘vidrado’ em música, Israel Exalto acompanhava as apresentações de bandas muito mais para observar o comportamento dos músicos na execução do seu trabalho, em especial nos instrumentos de corda – violão e guitarra. Em casa, exercitava-se com o violão presenteado pelo pai, ‘seu’ Osvaldo, homem sério, mas que sempre soube entender os filhos. Guitarrista e vocalista, com a vantagem de dominar bem o inglês – que era o ‘idioma’ do rock and roll – Israel transitou pelos grupos locais Os Eremitas, The Hot Stones e Os Invasores, até que, em 1973, decidiu formar uma banda estritamente dedicada ao rock and roll. Admirador inconteste dos Rolling Stones, bateu o martelo com aprovação do grupo.
Nascia o Israel Stones – nome que soava bem: o seu nome associado ao da banda de sua predileção. Tinha certeza de que ‘ia dar samba’, como se diz popularmente. Na verdade, ‘ia dar rock’ – e deu! Israel, Roberto Lustosa, Carlinhos Bacelar, Braz e o saudoso Zequinha de Abril formaram a primeira formação dos roqueiros – todos na faixa de 19 a 22 anos –, que escreveram uma bonita história no cenário musical baiano e, pode-se dizer, do Nordeste, com apresentações frequentes em Sergipe, Ceará, Pernambuco e no norte de Minas Gerais. As dificuldades logísticas da época impediram uma expansão maior.
O repertório básico reunia hits de Pink Floyd, Deep Purple, Led Zeppelin, The Beatles, Jimi Hendrix, Cream, Rolling Stones e Creedence Clearwater Revival, fazendo enorme sucesso nos shows. O figurino também chamava atenção, com um guarda-roupa estiloso, produzido pela dupla internacional Charles Albert e André. Durante seis meses, a banda tocou todos os domingos na cidade de Candeias, sempre com casa superlotada. Em 1974, o Grupo de Ação Integrada conferiu Diploma de Honra ao Mérito à banda. Israel Exalto não esquece o falecido Benedito Santana (Bacurau), o primeiro empresário do grupo, “responsável pelo sucesso da banda no início”. Também cita o empresário Nelson Duarte.
A banda Israel Stones foi a primeira a pisar no palco do Teatro Castro Alves, na Concha Acústica da Fonte Nova, o que representou um prêmio – ou verdadeiro troféu – para o grupo de rapazes de Feira de Santana, que talvez jamais tenham pensado em alcançar tal notoriedade. Foi também inovadora em todos os aspectos, sendo a primeira da Bahia a usar iluminação de palco e a contar com um sintetizador – construído pelo guitarrista e vocalista Carlinhos Bacelar, gênio da eletrônica. Na época, além de caros, os sintetizadores eram importados.
A agenda da banda era cheia: todas as semanas, de quinta a domingo, não havia espaço para atender a todos os convites. Em 1975, respaldada pelo sucesso, a banda entendeu que deveria respirar o clima do Rio de Janeiro, necessário para consolidar nacionalmente o grupo Israel Stones, ‘made in Feira de Santana – Bahia’. Tudo certo: Israel, Carlinhos, Toinho Bê-Bap, Jorge Brasil e Jorge Albuquerque – Tucão (formação da época) disseram sim. Mas, no dia do embarque, recuaram. Apenas Israel Exalto viajou para a Cidade Maravilhosa, firmando-se como instrumentista e cantor. Gravou disco, cumpriu inúmeros compromissos, integrou o show Ziriguidum, de Osvaldo Sargentelli – inclusive no exterior – e retornou 25 anos depois à Feira de Santana, onde continua atuando no Ies Studio como professor de música, cantor e instrumentista.
A história do grupo de rock foi breve, apesar do sucesso. Começou em 7 de setembro de 1973, na cidade de Santa Bárbara, e terminou em janeiro de 1975, na cidade de Prado. A ideia da banda Israel Stones de ir para o Rio de Janeiro determinou o fim do melhor grupo de rock da Bahia.
Por Zadir Marques Porto