
Uma figura que faz falta no cotidiano citadino. Alto, passadas cadenciadas, riqueza na escrita e no falar, humor fino, era empolgante no Tribunal e impecável ao expor suas ideias como editorialista do jornal Folha do Norte. Desportista na juventude, torcedor do Flamengo. Foi professor, vereador, deputado estadual e diretor de banco. Hugo Navarro Silva, há 10 anos, deixou esse vazio.
Durante décadas editorialista do centenário jornal Folha do Norte, pertencente à sua família, e, sem qualquer dúvida, situando-se entre os melhores articulistas do país, o advogado Hugo Navarro Silva destacou-se sobremodo na sua atividade formal, nos tribunais, com brilhantes atuações na área penal, quando exercitava profundos conhecimentos e rara capacidade interpretativa, dissertando de forma rica e convincente, geralmente com doses homeopáticas de humor, nos momentos cabíveis, deixando o oponente em visível desvantagem, a ponto de atordoá-lo na busca de uma saída. No Tribunal, a participação do advogado Hugo Navarro significava sempre a presença de colegas, estudantes de Direito, jornalistas e pessoas da comunidade admiradoras do seu trabalho. Irônico, não era difícil ouvi-lo com um “estamos liquidados”, quando tomava conhecimento de algum fato estranho ou curioso e retrucava bem-humorado com essa expressão.
Esse estilo próprio e pouco assimilado, do mesmo modo, era encontrado na segunda página da Folha do Norte sob a epígrafe Hugo Navarro. Nesse espaço vertical correspondente a duas colunas do semanário — nove centímetros por trinta e cinco — ele dissertava sobre os mais variados assuntos locais, nacionais, ou mesmo de caráter internacional, com o mesmo brilhantismo e eficiência, denotando a sua assiduidade aos livros, revistas, jornais e demais meios de comunicação.
Com espírito memorialista, expunha profundo conhecimento da história mundial, e, quando se referia a algo relacionado com Feira de Santana, fazia-o com profundidade, de forma irretocável. Naturalmente, como todo cidadão, tinha as suas preferências políticas, às vezes sentidas no rabiscar da sua inteligente pena, assim como no futebol, onde não escondia a sua paixão, embora controlada, pelas cores rubro-negras, tendente, como milhares de brasileiros, ao “uma vez Flamengo…”
Mas só quem o conheceu de perto pode avaliá-lo no seu 1,80 m de altura, passadas medidas, cigarro no canto da boca (ao estilo de antigos galãs de Hollywood) e aparente distração. Na redação da Folha do Norte, na lide política, na atividade profissional e nas relações pessoais, marcava com fina ironia em situações inusitadas. Tinha um fraseado de poeta e filósofo, mas sem deixar oculta a sua sapiência, que distribuía com facilidade na sua missão de professor. Exerceu o magistério como professor de Português no Colégio Estadual de Feira de Santana e ocupou a diretoria do Colégio Assis Chateaubriand. Na função eletiva foi vereador em Feira de Santana, durante dois períodos, numa época em que a Casa Legislativa, solidamente constituída por cidadãos compenetrados do seu papel na comunidade, não era remunerada, e exerceu o secretariado da Mesa Diretora. Em 1994, recebeu dessa Casa Legislativa a Comenda Filinto Bastos.
Na Assembleia Legislativa teve larga e fecunda atuação. Foi vice-presidente da Comissão de Redação Final (1979/1980), titular da mesma Comissão (1981/1982), Comissão de Finanças e Orçamento (1979/1982), suplente da Comissão de Agricultura e Incentivo Rural (1979), Comissão de Educação, Saúde e Serviços Públicos (1980/1981), Comissão de Constituição e Justiça (1986), Comissão de Saúde e Saneamento (1986), Comissão de Educação e Serviços Públicos (1982). Cumpriu, assim, dois mandatos como deputado estadual. Também foi diretor do Baneb e do Feira Tênis Clube. Na juventude, praticou futebol e basquetebol ao lado do dentista Colbert Martins da Silva, que foi prefeito municipal, do jornalista Nilson Carvalho, Jackson do Amaury, Isack Gomes Suzart, Deraldo Gomes, Antônio Barreto, Itamar Pinto e outros rapazes da época. Filho de Dalvaro Ferreira da Silva e Balbina Navarro da Silva, Hugo Navarro nasceu nesta cidade e aqui faleceu aos 86 anos de idade, em 29 de março de 2015. Sepultado no Cemitério Piedade.
Por Zadir Marques Porto