
Cerca de cinquenta empreendedoras negras de Salvador participaram, na segunda-feira, dia 28, de uma capacitação voltada ao afroempreendedorismo feminino. O encontro, realizado pelo Sette Restaurante, no bairro da Barra, integra a programação do Ministério Público do Estado da Bahia voltada ao ‘Julho das Pretas’, agenda que reúne movimentos de mulheres negras em todo o país para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. A data também é dedicada a Tereza de Benguela, uma líder quilombola que liderou uma resistência à escravidão no século XVIII.
A atividade contou com o apoio da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, representada pela promotora de Justiça Lívia Vaz, e foi realizada em parceria com o Instituto de Juristas Negras (IJN). A iniciativa cumpre uma das medidas previstas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o MPBA e o Sette Restaurante, após o MPBA apurar supostos casos de racismo no estabelecimento comercial. O acordo tem como objetivo promover ações concretas de enfrentamento ao racismo estrutural, fortalecendo práticas de valorização e protagonismo da população negra.
Durante o encontro, foram abordados temas como capacitação de recursos, educação e gestão financeira e comunicação para afroempreendedoras, além de momentos de trocas de conhecimentos entre as empreendedoras presentes. Para a promotora de Justiça Lívia Vaz, criar ambientes de escuta e formação voltados a mulheres negras é fundamental. ‘’É simbólico e necessário que mulheres negras estejam em espaços que historicamente nos foram negados. Quando ocupamos lugares de poder, de tomada de decisão e de bem-viver, reafirmamos nossa existência e projetamos futuros possíveis para outras mulheres negras”, afirmou.
As empreendedoras presentes destacaram a importância da escuta, da troca de experiências e de momentos como esse de aprendizados e de reafirmação das potencialidades de afroempreendimentos. Para a empreendedora Liz de Itaparica, fundadora de uma marca de acessórios em búzios e alumínio, esse encontro foi importante porque ensinou caminhos para construir um negócio saudável financeiramente. Já para Viviane Cruz, CEO de uma loja de moda afro, eventos como esses são revigorantes. ‘’Ações como essas são importantes para adquirirmos conhecimentos e colocarmos em nossos negócios, além de nos fortalecer com outras empreendedoras negras por meio de uma rede de apoio e troca de saberes’’.
Espetáculo teatral Sobejo
A programação do ‘Julho das Pretas’ foi encerrada na tarde desta terça-feira, dia 29, com o espetáculo teatral ‘Sobejo’, encenado pela atriz Eddy Veríssimo, no salão nobre da sede do MPBA, no CAB.
O espetáculo, iniciativa do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (CAODH), conta a história de Georgina Serrat, uma mulher cujos sonhos de felicidade no casamento são destruídos pelo marido violento. A peça, escrita pelo ator, cenógrafo e figurinista Luiz Buranga, e com iluminação de Israel Barreto, mostra as agressões vividas diariamente por Georgina, que se anulava para agradar o marido e manter uma relação amorosa violenta.
“É um chamamento para que todas nós possamos nos unir para precaver a violência. Não podemos permitir que existam crianças órfãs que vão levar a dor dessa violência para o resto da vida”, destacou a promotora de Justiça Sara Gama, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero do MPBA (Nevid).
Emocionada, a atriz Eddy Veríssimo ressaltou a importância do espetáculo, que estreou em 2016, ao mostrar a realidade dolorosa de milhares de mulheres. “Sobejo mostra essa mulher que foi violentada durante dez anos, por ser mulher, preta e periférica, mas que se empoderou e teve coragem de denunciar a violência que sofria. A arte é política, e isso é um chamamento. Precisamos ecoar as nossas vozes”.
Crédito das fotos: Humberto Filho/Cecom MPBA