
A cidade turca de Istambul recebe nesta quarta-feira (23) delegações ucranianas e russas para uma nova rodada de negociações com vista a um cessar-fogo no conflito da Ucrânia.
A esperança de um acordo entre as partes, no entanto, é remota uma vez que a Rússia já avisou que não se devem esperar “progressos milagrosos”.
Esta terceira rodada de negociações diretas na Turquia ocorre, mais uma vez, sob pressão do presidente norte-americano, Donald Trump, que deu a Moscou 50 dias para chegar a um acordo com Kiev, sob pena de enfrentar sanções severas.
No entanto, a perspectiva de progresso parece ainda muito limitada, dado que as posições dos dois lados parecem irreconciliáveis.
“É claro que não há razão para esperar progressos milagrosos, mas pretendemos defender os nossos interesses, garanti-los e cumprir as tarefas a que nos propusemos desde o início”, disse o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, na terça-feira (22).
Peskov adiantou, no entanto, que poderá ser acordada uma nova troca de prisioneiros e de mortos.
“Há muito trabalho a ser feito antes que possamos falar sobre a possibilidade de algumas reuniões de alto nível”, acrescentou Peskov, depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter renovado o pedido para uma reunião com Putin.
As negociações anteriores, que ocorreram em maio e junho, produziram pouco progresso em um cessar-fogo, resultando apenas em trocas de prisioneiros e corpos de soldados mortos.
Ontem, Zelensky indicou que espera discutir novas trocas com Moscou, além do repatriamento de crianças ucranianas levadas para a Rússia.
Dmitri Peskov enfatizou na segunda-feira (21) que as posições de Kiev e Moscou continuam a ser “diametralmente opostas”.
A Rússia exige que a Ucrânia ceda quatro regiões parcialmente ocupadas no Leste e no Sul do país, além da Crimeia, anexada em 2014, e renuncie ao fornecimento de armas ocidentais e a qualquer adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Estas condições, no entanto, são inaceitáveis para a Ucrânia, que quer a retirada das tropas russas do seu território e garantias de segurança ocidentais, incluindo a continuidade do fornecimento de armas e o envio de um contingente europeu.
Kiev, juntamente com seus aliados europeus, insiste também na necessidade de um cessar-fogo de 30 dias, o que Moscou recusa.
Na terça-feira, Zelensky anunciou que seu ex-ministro da Defesa e atual secretário do Conselho de Segurança, Rustem Umerov, vai liderar a delegação ucraniana nestas novas negociações.
Moscou, por sua vez, não anunciou a composição da sua equipe. Nas negociações anteriores, a delegação russa foi chefiada pelo antigo ministro da Cultura e historiador nacionalista Vladimir Medinsky, que a Ucrânia criticou como sendo um funcionário de baixo escalão.
Apesar das negociações iminentes, a guerra na Ucrânia continua. O Ministério russo da Defesa disse, nesta quarta-feira, que os sistemas de defesa aéreo do país destruíram 33 drones ucranianos durante a noite em seis regiões.
De acordo com o relatório militar do Ministério da Defesa, a maioria dos ataques aéreos concentrou-se nas regiões de Tula e Rostov, onde foram abatidas 12 e 11 aeronaves não tripuladas, respectivamente.
O ataque ocorreu depois de a Rússia ter lançado um dos maiores ataques contra a Ucrânia na noite de segunda para terça-feira. A Força Aérea da Ucrânia informou que a Rússia lançou 426 drones e 24 mísseis nessa noite. Uma criança de dez anos morreu e mais de 20 pessoas ficaram feridas nestes ataques.